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Mostrando postagens de dezembro, 2009

Destrinchando a História da Donzela Teodora* - Um Clássico da Literatura de Cordel

       A literatura de cordel desde a sua origem reflete o imaginário popular de sua época. Muitos poetas e escritores eruditos viram nesse gênero algo de reacionário e retrógado: Histórias de reis, nobres ou burgueses que tinha nada haver com a realidade do povo. Mas, quanto mais pesquisamos esse gênero genuinamente nordestino, vemos que o cordel sempre esteve à frente ou à par de sua época.      A História da Donzela Teodora de Leandro Gomes de Barros, datada de 1905, é um bom exemplo disso. Trata-se de um romance em redondilha maior, 142 estrofes em sextilhas rimando os versos pares (xaxaxa), forma mais comum da literatura de cordel. No início do romance o poeta nos informa que a história não é por ele inventada, sim descrita direto de fonte da tradição oral:                               “Eis a real descrição                                Da história da donzela                                Dos sábios que ela venceu                                E aposta ganha por ela      

A Bahia só nos dá régua e compasso

          Quando menino andava pelas mangas e ouvia o aboio do vaqueiro, pensava eu, na minha inocência, que esse homem conhecedor dos brejos e cachoeiras era dono daquela terra toda.           A inocência passou como passou o boiadeiro.      O que ficou foi minha memória e o que nem sei onde aprendi. Sei que aprendi na Bahia, parte na região cacaueira onde vivi a infância, outra parte na capital, no sertão e no recôncavo onde passava férias com meus avôs.     O boiadeiro foi meu mestre nas mangas. O mestre popular tem a peculiaridade de não se passar por mestre, depois é que damos o título quando reconhecemos seus profundos ensinamentos.     Hoje os mestres que me ensinaram, alguns mortos, muitos vivos e velhos, estão desmotivados, desconfiados e desesperançosos com o mundo.      É que tudo começou na Bahia: nossa alegria e tristeza; nosso luxo e pobreza; nossa união popular e desunião invejosa; nossa graça e desgraça histórica. Aqui começou nossa poesia, aqui se calou; aqui

O PAPEL EM PRETO E BRANCO DO POETA POPULAR

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                                                                                     "O argumento é comum                                  Pode bem argumentar,                                  O caso também é simples                                  Pode bem simplificar,                                  Mas comum não é ruim                                  Nem simples de desprezar. "*      O perceber, sentir e imaginar duma forma simples e profunda a vida, e a partir dela expressar no papel sua poesia é a característica do poeta popular. Não que um poeta erudito seja o contrário: complexo e superficial. Mas acontece que ele faz o papel de popular quando simples. Faz simples na forma, mas não o faz em sua profundidade.      Não podemos confundir o poeta popular com aquele que desenvolve temas de antigamente, nem o que com a régua na mão conta se falta uma sílaba sonora ao seu ouvido de antigamente.      Entre a tradição e a modernidade vive ele.      Sem a tradição perdem