O PAPEL EM PRETO E BRANCO DO POETA POPULAR
"O argumento é comum
Pode bem argumentar,
O caso também é simples
Pode bem simplificar,
Mas comum não é ruim
Nem simples de desprezar. "*
O perceber, sentir e imaginar duma forma simples e profunda a vida, e a partir dela expressar no papel sua poesia é a característica do poeta popular. Não que um poeta erudito seja o contrário: complexo e superficial. Mas acontece que ele faz o papel de popular quando simples. Faz simples na forma, mas não o faz em sua profundidade.
Não podemos confundir o poeta popular com aquele que desenvolve temas de antigamente, nem o que com a régua na mão conta se falta uma sílaba sonora ao seu ouvido de antigamente.
Entre a tradição e a modernidade vive ele.
Sem a tradição perdemos a referência do passado, sem a modernidade perdemos a referência do presente, e sem as duas ou capenga de uma não podemos criar e construir a poesia popular.
"Não serei contra mau gosto
Pois meus versos assim são,
De métrica muito antiga
Pra não trocar pés por mão
Nem beleza por feiúra,
Estupidez por lição."
A tradição é a base que inevitavelmente temos que modernizar para nossa criação pertencer ao futuro.
O Papel social do poeta popular é perceber a poesia das pessoas simples, sentir profundamente seus problemas e sugerir através de seus versos a melhor maneira de enfrentar as questões da alma.
Ser poeta popular exige profundidade.
Todo poeta vive profundamente: nos erros e acertos, nos defeitos e perfeições, no vulgar e nobre... seus olhos rasos d'água, as dores d'alma, o sentimento consciente ou quase do vício e da virtude... o acompanha com a caneta na mão e o papel em branco.
A diferença do poeta popular para outro não é de quão profundo, mas em qual cultura baseia sua profundidade. É da cultura e sabedoria do povo, da praça, que tinge de preto seu papel em branco.
Quando o poeta popular perde seu papel ou mancha sua folha por um falso sentimento, fica sem escrever por lhe faltar paixão ou não mais apaixona o que ele escreve.
"A poesia também
Bate asas, voos lentos...
Os poetas se recolhem,
Bobos tomam os intentos,
Faço de mim o possível
Nos meus versos, sentimentos."
* Todas as estrofes extraídas do cordel "Canhoto no Tempo da Pornofonia ou Nem Todo Abismos é de Rosas" - Osmar Machado Jr - 2009
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