TERCEIRA MARGEM




                                                                 “...e, eu, rio abaixo, rio afora, rio adentro – o rio”.
                                                                                                     Guimarães Rosa

Foto Rio Buranhém: Urbino Brito



Cortando vales, dando alimento à terra,
camarada Rio,
te esparges nos teus cristais d’água,
milhões de aves te rasgam voo,
peixes habitam tua fonte.

Mesmo na seca esculpido
com ardente natureza morta
continuaste vivo.

Quanta guerra e paz,
carne e sangue te ofereceram?...

Agora dizem por aí:
– Calai o canto das lavadeiras!
– Minguai o riso das crianças!
Será preciso te criar outra margem
para além do sonho,
para além da realidade?

É que o rio do homem é solitário,
camarada Rio,
inda não tem tantas braças;
mas deixa eu ser tua corrente,
ser a terceira margem.
Se viveste – serei líquido na torrente;
se morreste – serei riacho... córrego...
... até inundar-me de pedras...
...seco...

Poema publicado em:

MACHADO JÚNIOR., OSMAR SIMÕES. Prêmio Nacional de Poesia de Colatina  2006/2007/2008, pg. 49, ESPÍRITO SANTO, Secretaria de Cultura de Colatina.

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