Que mil flores desabrochem
Não tenho exposto há tempos no virtual. Tenho sim, suportado a realidade com paciência e persistência dum jovem ancião. Contudo, é hora de balanço anual do meu trabalho como arte-educador. Nesse ano em que deixei muita coisa de lado por motivos pessoais, inda foi produtivo nesse aspecto. Deixarei agora de lado os mini-cursos e fixarei num projeto literário de médio prazo realizado na Escola Estadual Roberto Santos – Narandiba/Salvador em parceria com a Associação Cultural do Cabula e apoiado pela Secretaria de Educação do Estado através do TAL (Tempo de Arte Literária).
Quando tanto sentimos o negativo é tempo de falarmos do positivo.
Uma das oficinas que ministrei foi a de produção de poemas para alunos do sexto ano matutino. Eram duas turmas totalmente opostas, uma hiperativa a outra apática. As duas produziram desde o princípio, apesar das limitações do ensino e idade, bons textos em verso:
Eu não sei nada de verso
E eu não sei por que não sei
Sou menina bonita
Com inteligência entenderei
Só falta fazer o final
E assim eu terminei.
Stefany Santos Brito
5ª M2
Através de algumas leituras e dinâmicas rítmicas floresceram as ideias dos pequenos e pequenas:
Não gosto de matemática
Ela não me faz tão bem
Mas sei que lá no futuro
Ela servirá também.
Laís M.
5ª M2
A cada visita eles se interessavam mais. Ao contrário do que pensam os mestres pessimistas, o gosto pela leitura e escrita e a sensibilidade no trato das questões da vida não se perdeu de todo nesse perdido mundo que vivemos:
Para a minha avó
Seu amor comigo
É tão lindo
É tão doce
Que parece mel
Seu sorriso lindíssimo
Um abraço carinhoso
Seu brilho no olhar
Me faz encantar
Coisa boa da vida
Um ombro acolhedor
Uma mão que ajuda
Minha vida ser melhor
Seus dedos que semeiam...
As mágicas sementes
Da paz, da fraternidade
Do amor e do carinho.
Emily Oliveira de Souza
5ª M1
Aí foram versos livres, quadras, sextilhas, parlendas parafraseadas...
Eu sou idiota
Quebrei a porta
A porta quebrou
Meu pai entrou
Entrou minha mãe
Entrou meus cães
Chegou limão
‘Ranquei mamão.
Alberto Vinícius
5ª M1
E não pararam de produzir...
Nós educadores ficamos satisfeito com nosso trabalho quando descobrimos talentos e os ajudamos em seu caminho pelo mundo. Quem ousará dizer que não há criatividade expressiva, senso estético e intuição de verdadeira poeta na meiga mocinha que me presenteou, depois de algumas dinâmicas rímicas, com versos ao mesmo tempo tão ingênuos, sonoros, inteligentes e inesperados como esses:
Lorival
Lorival rima com mal
Ele é um passarinho
Que canta, canta, canta...
Lorival canta que é bom.
Canta, canta Lorival...
Lori... Lori... Lori...
Lori... Lorival.
Cássia Pinto dos Santos
5ª M2
Disse mestre Ariano Suassuna certa feita em palestra em Eunápolis-Ba, “se derem um osso e um filé para o cachorro ele vai escolher o filé, não o osso”. Sentenciou logo depois:
“Só dão osso pra juventude”.
Não discordando do mestre, mas refletindo em outro contexto:
Virá dos ossos que nos reduziram o filé que comeremos no futuro.
Saudades e muitos beijos em meus alunos.
Comentários
Muito legal o trabalho realizado.
Abraços!
Viviane.