CONVERSA

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            Aqui tenho conversado sobre várias coisas, às vezes em tom afetivo e não afetado, outras em um tom efetivo mas afetado. Os anos de educador produziram seus efeitos negativos – a conversa professoral.
Quanto mais pensamos que sabemos conversar aprendemos que não. O uso do cachimbo faz a boca torta. Criamos modelos para a conversa e se esses modelos não são flexíveis às nossas afetações acabamos conversando mal.
            Escreveu Pascal em seus Pensamentos que, “Da mesma forma que se estraga o espírito, se estraga o sentimento. Espírito e sentimento se forma pela conversa. Espírito e sentimento se estragam pela conversa. Assim as boas ou más conversas o formam ou o estragam.” Concordo. Sabe-se que temos boas conversas que fazem mal ao espírito, outras más fazem bem, temos inda o conversado e desconversado e o não conversado mas feito. Tudo isso é verdade. Porém, o espírito deve ser formado para conversar e aí o pensador continua: “Importa, portanto, saber realmente escolher para formá-lo em si próprio e não estragá-lo; e não se pode proceder a essa escolha, se já não o tiver formado e não estragado.” É um círculo vicioso que gera insensibilidades, hipersensibilidades e até apatia, “são bem felizes aqueles que conseguem sair dele”. 
            O poeta é formado para conversar bem sobre as dores e os prazeres do espírito. Sua busca é sempre melhorar o verso no converso. Poeta também se estraga, não creio que pela conversa, essa quase sempre o conserva, mas sim, pela má formação que nos é imposta socialmente.
A estupidez dos preconceitos sociais deve ser superada não só pela conversa.
A prática sensível do poeta é uma boa arma para superá-los. Prática sensível de ir na profundeza turva do nó que a vida nos dá, desatá-lo, seguir em frente. Manter-se sensível no mundo de hoje é algo difícil. Temos que enfrentar as dificuldades. Nossa formação sensível não impede que nos estraguemos, nos dá uma escolha: ser poeta e não se estragar, se estragar e deixar de ser poeta. Não existe meio termo quando se trata da relação entre espírito e sentimento. O poeta que estraga o espírito inevitavelmente estraga o sentimento, logo estraga sua conversa, quando não todo seu verso.
Quando estamos prestes a se estragar é hora de regenerar, é hora de depuração. A modernidade substituiu a sinceridade dos feitos e sentimentos pela sinceridade artística com o pretexto de aniquilar o lirismo. Na verdade se buscava fazer poesia com base na formação técnica em detrimento da sensível. Por isso, os poetas de hoje buscam uma formação sensível em detrimento da técnica. Coisas da produção espiritual do mundo.
As conversas desse blog são tentativas para formar o espírito com técnicas que não atrapalhem a expressão das ações e sentimentos. Toda arte tem conversas de expressão e conversas de conteúdo. Cabe a nós colocar a conversa em termos de formar o fora e dentro do fazer poético. Essa sempre será a pretensão de nossas conversas, a ambição maior do nosso espírito.

Comentários

Que espírito, Tolstoi!!! Serei sempre sua fã, com toda a honra de sê-la.
Obrigado Tai linda, sabe que fico avexado com isso.

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